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Odù

Pede-se licença ao entrar em casa alheia. E neste organismo vivo, pede-se licença para uma jornada onde ancestralidade, memória e resgates de identidade acontecem a cada passo para este homem negro disposto a encontrar e preencher lacunas geradas pelo apagamento histórico das memórias de sua ancestralidade.

 

Na aproximação da entrada, a enorme boca aberta proferindo uma mistura de sonoridades, como se pudesse ouvir todas as pessoas de uma cidade ao mesmo tempo, cada qual com sua voz, sua fala, sua necessidade, dirigindo-se a um único interlocutor, que ao mesmo tempo compreende a vibração, mas não decifra a mensagem. O bafo quente, uma brisa, como o respirar, e ele é engolido sem consciência do que vai encontrar em mais um dia nos caminhos, neste ODÙ, neste destino que é sua jornada.

 

Os caminhos são muitos, confusos, intensos, no entanto o fluxo nunca se perde. E seguir o fluxo dentro dessas veias é encontrar fontes diversas que nutrem as pessoas-células que encontram em suas trocas suas necessidades e o seu lado na banca do mercado. Não existe fluxo sem troca. As contrapartidas estão disponíveis. E saber por que se adentrou garante a dinâmica circular deste mercado, que como um corpo vivo pulsa dentro da cidade de Salvador-Bahia há quase 60 anos, neste Organismo em Diáspora de nome Feira de São Joaquim.

 

Uma pergunta inquieta, para além das trocas comerciais: “O que mais este organismo oferece e o que se pode oferecer em troca?”. Esse legado da memória ancestral e da reunião de uma representatividade Afro-Brasileira aponta várias respostas, e outras tantas perguntas que alimentam uma história de potência e resistência, cotidiano e comércio circulando nas mãos de muitas pessoas negras que mantêm esta energia, este asé circulando.

 

Resta a um observador, a um inquieto buscador de respostas acerca de sua ancestralidade e de sua identidade, trocar suas miragens com as mensagens trazidas dentro dos corredores da Feira. E assim, a partir das oralidades, visualidades e vivências, construir uma memória que, como uma mistura macerada de folhas que uma banca comum da feira oferece, possa cicatrizar uma ou outra ferida aberta pela lacuna do apagamento histórico, pela lacuna deste tempo, do banzo do não saber, produzindo, desse modo, novas formas de relações com sua história e com as que virão por meio das novas memórias.

 

ODÙ é o encontro de um com o destino de muitos, através destes caminhos construídos pelos que fazem do mercar uma forma de aquilombamento, de existir, gerar ganhos e compartilhar, para além do capital, a força de sustentação de pilares socioculturais do Povo Afro-Brasileiro, dos Negros em Diáspora no coração da cidade de Salvador-Bahia.

           

T.R.

 

Meus respeitos ao Mensageiro.

O fotolivro ODÙ é um desdobramento de uma pesquisa autoral de logo prazo iniciada em 2004 na Feira de São Joaquim em Salvador - Bahia.

Foi um projeto autopublicado em 2020 a partir de colaborações por financiamento coletivo, um processo de feitura coletiva, a partir de meu acervo de mais de 15 anos de registros da Feira.

A história desta feira como território de conquista e resistência do povo negro na cidade de Salvador tem início em 1930 com a Feira do Sete passando a ocupar espaço onde veio a se chamar Feira de Água de Meninos entre 1952-1954, momento em que ocorre um grande incêndio criminoso que desloca o território para onde se encontra hoje com o nome de Feira de São Joaquim. 

O fotolivro Odù cumpre um papel de contribuir para o legado deste mercado, que tem fundamentos afro religiosos e relações socio Culturarais com a Cidade de Salvador, sustentando os pilares das manifestações Afro Brasileiras em Salvador a partir das profundas relações com as religiões de matrizes Africanas, principalmente com o Candomblé.

É também um local de vivências e experiências imersivas com a cena da cultura popular de Salvador e local de aprendizados através de compartilhamentos e oralidades.

A primeira edição do livro está esgotada e circula no Brasil e também em outros paises

Self Published | Salvador Bahia -  ISBN 2020 - 978-65-00-13229-8

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